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Rendas sem Regras enfeitam parede da Fundação Cultural


"Houve um tempo em que moças virtuosas aprendiam a fazer rendas, que enfeitavam as salas de jantar ou ficavam guardadas em gavetas", escreve Hugo Fortes, artista visual e professor da Universidade de São Paulo (USP) para apresentar o que se transformou em uma das paixões de Marta Masiero. A artista esteve esta semana em Blumenau para organizar a exposição Rendas sem Regras, uma das atrações que serão abertas ao público quinta-feira (8), durante a última Noite Multicultural deste ano.

No preparo das paredes, a artista colou rendas em formas variadas sobre um fundo branco. Esta e outras mostras podem ser vistas no Museu de Arte de Blumenau (Rua XV de Novembro, 161, Centro) até 30 de janeiro. "Mesmo que estas toalhinhas não chegassem a ser utilizadas, sua existência significava uma transmissão de conhecimento que deveria se perpetuar de geração em geração. Um saber de mãe para filha, uma história contada através de cada ponto dado", diz o professor Hugo Fortes, ao lembrar do legado dos enfeites de renda.

Em seus primeiros trabalhos, Marta Masiero remexia em suas gavetas e mesclava suas rendas com outras, herdadas ou adquiridas. A artista produzia impressões de rendas, às vezes diretamente sobre a parede, criando padrões através da sobreposição. Um enevoar de brancos e azuis se distribuía vaporosamente pelo espaço. A escolha cromática delicada poderia até remeter aos azulejos barrocos. As toalhinhas e rendados que outrora povoaram as casas tradicionais encontravam-se agora colocadas sobre a parede, evocando memórias, afetos, histórias.

Já nesta série atual, a artista desconstrói suas rendas para criar outras, que agora se espalham mais livremente pelo espaço. Ao invés da pura técnica da sobreposição, Marta passa a imprimir sobre etiquetas redondas, para novamente sobrepô-las.

DesenhosO sistema construtivo das rendas é de certa maneira virado do avesso, fazendo com que a trama possa ser manipulada através das pequenas bolinhas rendadas, criando assim desenhos mais orgânicos e fluidos. Cada etiqueta equivale, por assim dizer a um ponto, porém que é sobreposto, não através de uma ordem puramente racional ou mântrica, como na renda tradicional, mas que segue uma lógica própria governada pela sensibilidade artística.

As rendas de Marta Masiero mostram-se assim contemporâneas, incorporando a complexidade de um mundo em que rendas já não obedecem as regras e moças já não são treinadas para bordar. "Construindo e desconstruindo suas rendas, a artista conta um conto, aumenta um ponto, e nos envolve em sua trama poética", conclui Hugo Fortes.

Assessor de Comunicação: Sérgio Antonello

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