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Esculturas desdobram a transitoriedade da vida

A exposição Sempre Viva apresenta um recorte na recente produção de Nathan Braga, que se volta a processos escultóricos desdobrando os sentidos existenciais sobre a transitoriedade da vida, a perenidade da memória e da construção de identidades a partir de ausências e tentativas de preservar gestos, costumes e palavras. Amantes da arte poderão conferir esta e outras produções na 5ª Temporada de Exposições do Museu de Arte de Blumenau (MAB), que começa nesta quinta-feira, dia 7 de novembro, às 19h, na Secretaria Municipal de Cultura (SMC). A noite terá a tradicional conversa com artistas, lançamento de livros, declamação de poesia e música. A entrada é franca.

A produção de Nathan parte de mecanismos da arte contemporânea utilizando sobreposições de elementos díspares que geram uma inflexão que faz da variação uma dobra e que leva a dobra ou a variação ao sentido de infinitude; esta tentativa — intrinsicamente barroca — de alcançar o infinito, busca a intensidade absoluta e permanente da vida, que escapa a todas as vicissitudes das mutações e, em especial, às vicissitudes do tempo. Partindo da temática da Vanitas, o artista se debruça sobre símbolos de nascimento e morte para pensar a perda através de uma potência histórica dos significados dos materiais.

Em muitos mitos cosmogônicos o universo se origina num ovo, que contém tudo em seu interior e que apenas necessita ser incubado. Desde o Paleolítico já existiriam ovos pintados em formas ovais e elípticas como símbolos de regeneração e renascimento. Estas estruturas são permeáveis aos gases necessários à respiração sendo relativamente impermeáveis à agua, intercalando resistência e porosidade, proteção e contenção. Ovos encontrados em certas tumbas da antiguidade foram interpretados como uma representação dos ciclos biológicos, promessa e signo de retorno à vida.Some cycles begin with damage lembra que este estado de latência é preciso ser rompido, e que a vida surge no quebrar da perfeição alva da casca que romperá a dialética do ser livre e ser aprisionado.
Ao contrário dos filhotes, que requerem apenas nutrição, o homem nasce precisando de cuidados e de cultura, sendo mais frágil do que qualquer outro animal. O filósofo Kant entende os cuidados na infância, a instrução e a disciplina como fundamentais à formação do que ele chama de razão prática pura, já que “o homem é a única criatura que precisa ser educada”. Os jogos permitirão a aculturação e o desenvolvimento moral infantil através da prática e da consciência de regras.

Na obra Para chegar ao céu, a transformação do jogo da amarelinha em um território minado, feito de cartelas de ovos, indica uma quebra no conjunto das regras que impedirá a realização do próprio jogo e, portanto, de um processo de socialização da criança. O ovo representa processos de iniciação dentro do mundo animal. Quando impedida de brincar e executar as regras previstas com a “disciplina que transformará a animalidade em humanidade”, a criança se aproxima de um estado mais próximo ao do ovo do que do humano. “O traço específico do conceito de humanidade, e a diferença da animalidade está na capacidade de pôr-se fins”, argumenta o curador Matheus Simões. “A brincadeira não se concretiza e permanece postergada ao futuro tal como um ovo, germe irrealizável das primeiras diferenciações.”

Outros elementos, como as pérolas se assemelham em cor e esfericidade à representação do ovo, mas são gestadas na contenção introvertida que abriga as conchas. Cada conta dos colares e das pedras dos anéis da série Jóia Vil é feita de naftalina, um produto químico trivial que se contrapõe à perenidade e suntuosidade das peças de joalheria. Há aqui uma correlação entre a manufatura e engenhosidade humanas contraposta à pura determinação do natural que engendra pérolas e gemas e sua posterior valorização burguesa como artigos de extrema excepcionalidade: aqui o luxo é a própria consumação do tempo que devora as peças sem deixar vestígios.
A naftalina também está em obras em que há a presença do mármore, e que sugerem uma aproximação visual entre dois elementos com propriedades materiais inconciliáveis. O mármore, gestado no útero geológico da terra, tornou-se símbolo do eterno ao ornar templos, sendo privado de limite na duração e adquirindo uma dimensão espiritual. Já a naftalina, quimicamente elaborada, é radicalmente perene e independente de toda contingência limitativa: desmancha-se no ar, metáfora de todo engenho humano.

Sobre o artista
Mestrando em Artes Visuais pela UERJ e Pós-graduando na Especialização em Linguagens Artísticas, Cultura e Educação no IFRJ, Nathan Braga desenvolve um estudo investigativo sobre a morte e sua relação, ainda hoje, enquanto tabu para a sociedade. A interdisciplinaridade e a intermaterialidade são questões caras a poética pessoal de Nathan, artista formado na academia que é também técnico em química e vem fazendo uso das especificidades desta ciência em seus processos artísticos. A aproximação com a química abre seus trabalhos a propostas de constituições múltiplas, tanto na escrita quanto na plasticidade, reafirmando a convulsão entre arte e escritura, organizando-se a um só tempo como pesquisa teórica em arte e produção artística, uma vez que atualiza e materializa termos e conceitos.

Saiba mais
Abertura da 5ª Temporada de Exposições no MAB
Quando: quinta-feira, 7 de novembro
Horários:
19h: conversa com os artistas expositores
20h: abertura da 5ª Temporada de Exposições do MAB, lançamento de livros, declamação de poemas, apresentação de documentário e show musical
Visitas: até 16 de fevereiro, de terça-feira a domingo, das 10h às 16h. Visitas mediadas podem ser marcadas pelo telefone 3381-6176
Classificação indicativa de idade: Livre
Entrada franca

As exposições:

Domingo, de João Paulo (Curitiba/PR)
Sempre Viva, de Nathan Braga (Rio de Janeiro/RJ)
Redesenhando a paisagem, de Cláudia Lyrio (Rio de Janeiro/RJ)
Orifícios, de Patrícia Pontes (São Paulo/SP)
Sacré Coeur de Marie, de Maria do Carmo Verdi (São Paulo/SP)
Gravuras do acervo do MAB: obras de Abelardo Zaluar, Doraci Girrulat, Elke Hering, Juarez Machado, Maria Bonomi, Renina Katz e Roy Kellermann

Lançamentos de livros
Arte, Estética, Educação – uma perspectiva tridimensional e mural cerâmico: marco de superação pela arte, de Roseli Moreira
Culinária Alemã do Vale do Itajaí – A Hora do Lanche, de Artur Ellinger e Hellamari Hohl
Águas Passadas Movem Moinhos, de Henrique Pagnoncelli

Assessor de Comunicação: Sérgio Antonello

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