A fotografia foi um instrumento utilizado para a elaboração dos esboços em todas as obras que compõem a coleção.
Dois processos opostos de construção espacial são ilustrados na mostra “O todo e as partes”, de Carolina Sucheuski, que entra em cartaz a partir do dia 2 de maio na 2ª Temporada de Exposições do Museu de Arte de Blumenau (MAB). De um lado, uma pintura de formato maior e temática orgânica exibe um agrupamento de flores e folhagens; de outro, seis pinturas com a metade do tamanho apresentam vistas parciais e aproximadas de ambientes internos, em imagens caracterizadas pela fragmentação e pelo recorte abrupto de seus elementos pelas margens.
A prática da síntese e a da análise na definição do espaço podem ser traduzidas na distinção enunciada pelo pintor inglês William Turner em uma palestra em 1811: enquanto no primeiro caso trata-se de uma pintura feita de pedaços, no segundo tem-se uma pintura de pedaços.
Em todas as obras que integram a exposição, a fotografia foi um instrumento para a elaboração dos esboços: em Jardim na sala, partiu-se de diversas imagens botânicas (a pintura foi elaborada com o intuito de dotar as paredes brancas de um cômodo pequeno e sem janelas da amplitude de uma paisagem); em 702u, ida e nas pinturas da série “109a”, ela permitiu a visão fragmentada que se torna possível graças à objetividade atribuída pelo automatismo da câmera, já que as bordas que truncam os objetos não fazem parte do nosso campo de visão.
Os ambientes retratados nessas obras são o interior de um departamento burocrático localizado no número 109a da rua da Praça do Relógio, em São Paulo (sede da Editora da USP, onde a artista trabalha), e do ônibus da linha municipal 702u, que conecta esse local ao centro da cidade. Dentro desses lugares, não há mais a vista ampla de uma paisagem vegetativa. O olhar é sempre fragmentado e aproximado, as formas são recortadas pelas bordas da pintura assim como o escopo da visão é limitado pelos elementos arquitetônicos.
Além da formalização espacial, também a composição cromática das pinturas expostas abrange uma dualidade. Em cada obra, ela é resultado de um processo pictórico que se alterna entre adicionar tinta nas telas e retirar parte dela com um pano, ou entre acentuar a saturação das cores e o contraste entre elas para depois rebaixá-los em camadas sobrepostas. “Essa prática artística que se orienta pela alternância entre ‘fazer’ e ‘apagar’ foi objeto de pesquisa na dissertação de mestrado intitulada Processos negativos em pintura e desenho, defendida por mim na Escola de Comunicações e Artes da USP em 2023”, explicou Carolina. “Recortes e apagamentos foram os dois processos negativos abordados, e as obras exibidas no MAB integram a pesquisa e ilustram uma poética visual que se volta para as possibilidades de experimentação de ‘faltas’ nas imagens. Para cada observador uma percepção diferente pode prevalecer, seja a falta contraste ou saturação nas cores, a falta de elementos que permitem identificar a que as figurações fragmentadas se referem ou ainda a falta de coesão entre as obras, entre o todo e as partes.”
A artista
Carolina nasceu em Curitiba, em 1986. É mestre em artes visuais pela Escola de Comunicações e Artes da USP, com pesquisa voltada para a prática de pintura e desenho. Também é bacharel em editoração pela mesma instituição, especialista em pintura contemporânea pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo e trabalha com design gráfico na Editora da USP.
O interesse pela criação de imagens considerada de forma ampla, tanto no âmbito das artes visuais quanto no do design gráfico, se reflete em práticas diversas: na graduação, estudou os cartazes culturais elaborados por pintores poloneses no século XX; no trabalho editorial, a criação de capas de livros muitas vezes compreende ilustrações digitais e fotomontagens que se relacionam a princípios de sua poética artística (relação essa que foi abordada em sua dissertação de mestrado); no trabalho em artes visuais, por outro lado, a confecção de livros-objetos é correlata da atividade com a elaboração gráfica de livros, e uma instalação vinculada a tal produção recebeu menção honrosa no concurso 29° Nascente USP. Foi responsável pela identidade visual das últimas oito edições da Festa do Livro da USP e suas capas de livros já foram reconhecidas pelo Prêmio Jabuti, pela Bienal Brasileira de Design Gráfico e pela Associação Brasileira das Editoras Universitárias.
A noite de abertura das exposições contará com a tradicional conversa com os artistas e curadores, com lançamentos de três livros. A parte musical estará sob a responsabilidade de integrantes da Banda Municipal.
Saiba mais
Abertura da 2ª Temporada de Exposições no MAB
Data: quinta-feira, 2 de maio
Horários:
19h: conversa com os artistas expositores
20h: abertura, lançamento de livros e apresentação musical
Visitas: até 23 de junho, de terça-feira a domingo, das 10h às 16h
Visitas mediadas: podem ser marcadas pelo telefone 3381-6176
Classificação indicativa de idade: Livre
Entrada gratuita
As exposições
Sala Roy Kellermann: Natureza Geométrica, com o Coletivo CACEV formado pelos artistas Akiko Miléo, Cida Sanchez, Katia Kimieck, José do Amaral, Márcio Medeiros, João Coviello e Susana Goienetxe
Sala Pedro Dantas: "Janelas Para...", com Edilson Viriato
Sala Elke Hering: O todo e as partes, com Carolina Sucheuski
Galería Municipal de Arte/Sala Alberto Luz: MATER, com Giowanella
Galeria do Papel: Onde Estão Seus Olhos, com Adriane König
Apresentação musical: Integrantes da Banda Municipal de Blumenau
Lançamento de livros
Elke Hering - diários de formação, de Daiana Schvartz
Felix Carbajal - atlas poético, de Ricardo Machado
Quem tem medo da Cultura?, de Edson Busch Machado
Assessor de Comunicação: Sérgio Antonello
postada em 23/04/2024 13:04 - 1133 visualizações
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