Após cirurgia de alta complexidade, olhando as embalagens do medicamento, que se tornou seu companheiro até que a morte os separe, a artista Martha Ozol sentiu empatia por elas. Esse olhar deflagrou o gesto primordial que, para ela, é um estado de espírito que aparece, meio por acaso, quando se tem empatia por algum objeto. E assim, com o corpo em processo de extrema e inevitável mudança e com a vida dependendo, dali em diante, de um substituto artificial para a substância antes fabricada pelo corpo, surgiu a ideia desta obra. A reflexão sobre a vulnerabilidade e o poder, a dependência e a liberdade, a gratidão e o direito, a vitimização e a resiliência, o efêmero e o permanente passaram, mais do que nunca, a fazer parte integrante da vida da artista.
No período de cinco anos (2013 a 2018) ela consumiu em torno de 18.250 cápsulas, embaladas em 608 caixas, 608 bulas, 1824 blisters, e milhares de lacres usando parte deste material na obra aqui apresentada. A artista usou o busto e o manequim como representação para expor a dependência do corpo em relação do medicamento. Utilizou as técnicas de papel machê, costura, crochê e colagem de diversos materiais. Nos quadros, a técnica foi a colagem de embalagens, bulas, caixas, blisters e fragmentos de alumínio sobre a madeira.
Servindo-se do apagamento em anteriores trabalhos de arte, nesta obra eliminou o nome do medicamento e do laboratório em certos lugares, deixando alguns vestígios deles em outros. As caixas foram viradas do avesso assim como sua vida, desde então.
Sobre a artista
Natural de Urubici (SC), Martha Ozol vive e trabalha em Florinópolis. Formada em Direito e Psicologia, possui especialização em arteterapia. Participou de cursos de arte no Brasil e na Espanha. Marcou presença com sua arte em dezenas de exposições coletivas por todo o Estado e organizou seis exposições individuais.
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